25.10.09

falta de cor

parece que hoje o dia é cinza,
cinza espesso,
que não me deixa sair de casa,
que não me deixa voltar a mim.

por mais que esbraceje,
não consigo afastar as nuvens,
não tenho forças para afastar esta dor apática.

este ruido de fundo
que são mais gritos doentios
que qualquer outra coisa,
estão a dar cabo de mim
e de tudo o que ponho a mão.

toda esta falsidade à minha volta,
é só mais carne p'ra canhão
para acompanhar a toda esta falta de cor.

mal de mim que te sonhei cidade,
mal de mim que ainda te quero.

dói-me algo.
algo que nem eu sei do que se trata.
as crianças correm loucas pela rua,
sem saber o que fazem.
dói-me algo,
e a fome aperta-me o estômago,
mas não chega a magoar.
esta dor é desenfreada,
sem esquemas estranhos
que a expliquem.
isto não é normal.
não, não pode ser.
é capaz de ser
aquela maldita consciência,
de que tanto ouvi falar
em pequeno.
na minha terra
ainda há males que vêm por bem
ainda há gente doente da cabeça
que não sabe um quem
há-de bater,
não sabe por onde está o seu rasto
nem o daqueles que deixaram de ser.
é mais uma terra de ninguem,
que não faz a minima ideia
de onde está ou por onde estará
é terra de perdidos nunca achados
que não tem onde cair mortos.
já e noite avançada
e a procissão ainda não chegou no adro.
se na terra dos homens de bem
aindanão chegou a penumbra dos vultos,
certamente que não tardará a chegar.
os fantasmas do passado
vão a caminho
e não há chuva de Novembro que os pare.
se não parece normal,
basta olhar para a pedra
pois, lá o esta escrito,
daqui ninguém sairá ileso!

zero.
zero é um homem sem amigos,
odiado por todos e mais alguns,
ou pura e simplesmente ao contrário.
não se sabe bem.
é um homem que vive para si,
que foje a qualquer movimento social.
mesmo assim, talvez seja o mais politicamente correcto possível.

é sisudo, de expressões fechadas,
fechadas para ele mesmo,
um verdadeiro homem aparte.
é um quarentão de laço apertado
a quem todos olham com desdem e desaprovação.
é o homem zero total,
longe de tudo e de todos.
é o homem zero,
o ermita apático.

24.9.09

por momentos,
existem singularidades
inoportunas que nos paralisam.
por momentos,
por mais vagos que sejam
há sempre algo que corre simplesmente mal.
não é que seja pura ciência,
não é que chegue a ser arte,
são coisas,
apenas coisas.
são galhos caidos involuntariamente
no meio da estrada,
que interrompem o meu rumo.

10.9.09

SIZA VIEIRA por José Saramago


Toda a arquitectura pressupõe uma determinada relação entre a opacidade natural da maioria dos materiais empregados e a luz exterior. Os grossos muros românicos abriam-se dificilmente para que a claridade do dia movesse, num espaço que parecia recusá-las, as sombras que precisamente iriam dar-lhe sentido. A sombra é o que permite fazer a leitura da luz. O gótico rasgava-se verticalmente em vitrais que, dando passagem à claridade, ao mesmo tempo a matizavam para resgatar no último instante o efeito misterioso da penumbra. Mesmo nos modernos tempos, quando a parede é, em grande parte, substituída por aberturas que quase a anulam, que a fazem desaparecer em absurdos revestimentos de vidro que diluem os seus próprios volumes num processo de caleidoscópicas reflexões e projecções, a necessidade de apoio de que o olho humano não pode prescindir procura ansiosamente um ponto sólido onde possa descansar e contemplar.
Não conheço na arquitectura moderna uma expressão plástica em que o primórdio da parede seja tão importante como na obra de Siza Vieira. Esses muros longos e fechados surgem, à primeira vista, como inimigos inconciliáveis da luz, e, ao deixarem-se finalmente perfurar, fazem-no como se obedecessem contrariados às inadiáveis exigências da funcionalidade do edifício. A verdade, porém, segundo entendo, é outra. A parede, em Siza Vieira, não é um obstáculo à luz, mas sim um espaço de contemplação em que a claridade exterior não se detém na superfície. Temos a ilusão de que os materiais se tornaram porosos à luz, de que o olhar vai penetrar a parede maciça e reunir, em uma mesma consciência estética e emocional, o que está fora e o que está dentro. Aqui, a opacidade torna-se transparência. Só um génio seria capaz de fundir tão harmoniosamente estes dois irredutíveis contrários. Siza Vieira é esse taumaturgo.

8.9.09

Isto tem andado mau, parado, vazio.
Uma nulidade.

Peço desculpa pela ausencia.

24.6.09

num dia de chuva,
é dificil achar um saida
para um meio seguro.
nos dias de chuva,
a hipocrisia fica em casa,
por ter medo de se molhar.
num dia de chuva ,
não posso ficar em casa.
há que aproveitar
o cinza do céu,
e as ruas despidas de preconceito.
são dias de sentir a areia nos pés,
de olhar para o infito
na procura de um horizonte inexistente.
folhas desfolhadas,
folhas em branco,
folhas de um papel quimico cortante,
são coisas que me deixam incoerente,
com um nó na garganta.
é um desconsolo vê-las assim nuas
apesar do tempo não me ajudar
tento agarrar-me a elas sempre que possivel

pelas conversas
parece que o terror só existe nos filmes
mas, quanto a mim este, está, mais presente
em folhas em branco.
é horrivel encarar um folha nula.
é complexo!
é um mar de nada
que me assusta e repele
e que me complica o raciocínio.
é como um furo na mente
que obstrui o pensar.
eu quero fugir a policia
e roubar maçãs
ao som de Carlos Paredes.
eu quero mandar coisas ao ar,
sem ter de explorar
o caos e o quociente
de números efémeros.
e mesmo que me dêem estalos à queima roupa,
eu hei-de fugir
por caminhos de pé posto
mal frequentados.

qual conspiração, qual quê?

nem os fantasmas santos
nem os velhos lá da rua
me encontrarão.
para além de mais fantasias
Sócrates sempre teve noção do que sabia.
energrumenos são aqueles que se deixam enganar,
e já chega, que este dia está no fim,
o senso comum insiste
em não deixar de existir,
e já está na altura
de escolher um rumo
em busca de algo melhor.

11.5.09

reza tu que eu não acredito nisso. 
seria hipócrita da minha parte.

26.4.09



"um dia ainda haveremos de ser amigos"

ok, eu não me vou esquecer
pigmento!
agarra-te ao pigmento!
esquece lá o sentimento 
que pensas que existe à flor da pele.

é nada!
apenas a nulidade.

das-me vontade de rir!
tu e todos 
que querem apoderar-se do cosmos,
como se fosse tão fácil como estrelar ovos!

é inutil pensar o pensar,
visto que nunca encontraremos um rumo para nós .
por isso desfragmento-me
em copos vazios sucessivos
na procura de algo mais
para acabar com alguns menos.

não, não importa!
que queres mais que te diga?
coisas belas?
não há.
coisas dessas esgotam, sabias?
o homem da raiva
esquarteja a maquina
na sua fronte
com potentes golpes.
não lhe vale de nada!
apenas fere a ele mesmo,
mas a sua fraqueza em sentido,
impede-o de parar.

8.4.09

O fumo começa a desaparecer

E o cigarro já vai no fim.

Começo a ver algum sentido nisto

E acho que já posso outra vez nascer.

Está a chegar a hora.

Hora de nada,

Hora de tudo.

Hora de fazer algo

Que realmente valha a pena.

 

Hoje é dia de Earl Grey.

Só por estar aqui

Junto a tudo e todos

Faz-me sentir bem,

Por isso, quero um Earl Grey.

O momento vale a pena.

1.4.09

Provavelmente
 não há nada errado. 
É apenas azia passageira, 
ilusão de optica, 
ouvidos por limpar, 
falta de percepção.
Eu não sei.
Algo há-de ser.
Quando eu tiver a noção, 
eu dir-te-ei como lá chegar,
mas se não chegar lá desiste de mim.
"a tua cabeça está cheia de paredes!"

(vê lá se escavas isso)


by joão nasi 

25.3.09

ecos da náusea

(eu deixei de ver o que queria ver,
o vento passou e não deixou nada,
nada que se visse,
apenas ecos da náusea
que me preenchem vazios por todo o corpo.)

Vladimir não gostou do que viu,
Vladimir não gostou do que ouviu,
Vladimir despediu-se do mundo 
e jurou nunca mais voltar.

ninguém, sabe o que aconteceu.
apenas sobrou vazio, silêncio.
ninguém sabe se há amanhã.
Vladimir pegou na sua mala, despediu-se do mundo
e jurou nunca mais voltar.

do fundo do poço, alguém gritou,
Vladimir para onde vais?
o que ficou para trás não foi nada mais do que uma cara azul-indigo.
Vladimir deixou de falar ao mundo,
e jurou nunca mais se calar. 

13.3.09

o passsado é sempre imperfeito,
mas por mais imperfeito que seja
há sempre momentos perfeitos
que fazem valer a pena 
qualquer resto de passado imperfeito.

7.3.09

cinco anos, quatro meses nenhum dia

o pássaro da indiferença
descansa em paz.
pegou nas suas coisa
e remou até a cisma.
o seu pai já não lhe fala à cinco anos
e ele já não sabia o que fazer consigo-
tudo mudou.
finalmente encontrou um novo sitio par morrer longe,
já só lhe basta enterrar a sua cabeça
a pensar no vazio que não é o branco.
seja como for é a cisma
que o cuida, que o protege
do céu nublado
que lhe corta as asas.

25.2.09

ó chuva cai em mim e diz-me se aprovas o apocalipse ébrio que nos enunda

13.2.09

"nem uma pálida luz nas janelas, nem um reflexo desmaiado nas fachadas. o que ali estava não era uma cidade, era uma extensa massa de alcatrão que ao arrefecer se moldara a si mesma em formas de prédios, telhados, chaminés, morto tudo, apagado tudo"



"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."



"o puxador da porta é a mão estendida de uma casa."

E.S. a C.
do avô da Susana

2.2.09

o que fazes tu enquanto foges da luz?
corres por caminhos lamacentos?
cospes nos homens de lanterna em punho?
acaricias o vulto das sombras?
que fazes tu?
que fazes tu enquanto foges da luz?
"... o exterior é para os paisagistas, o interior para os interioristas. 
já só nos resta a pele.
como podemos ser pele se nos roubaram o interior e o exterior?"

dito por Siza Vieira
na terra dos homens não se respira.
não se vive,
não se morre,
não se nasce.
na terra dos homens há um menino
que anceia pela realidade muda,
de gentes sem voz.
"eu só bebo porque preciso. é para a asma e para as alergias"


in Tebas (Filme de Rodrigo Areias)

21.1.09

fascista? desumano? não é o meu nome! não é o meu nome!
o vazio não passa de um falso nada , que nos invade o espírito e que nos leva a uma cegueira errónea, impingida por uma visão irreal.
hoje já não estou a espera.
já esqueci o dia em que toquei o mar, e agora sei que tudo não passou de erosão, um pleno desgaste do que nunca fomos.
isto é só mais uma pedra no meu saco.
as costas já não me doem.
já só me doem as pernas de tanto correr.

só tenho pena de nunca ter visto a bandeira de meta. espero que te divirtas no teu carrocel. pode ser que nos vejamos num dia destes.
não era suposto trazer algo mau para aqui,
não era suposto eu ter a ambição de sair daqui.

eu só queria ser alguém uma vez mais.
um dia, é só um desejo.

20.1.09

oxalá um dia a memória se cale de uma vez por todas.
o seu silêncio, neste momento seria mais consolador.
eu sei que é estranho, mas quero sentir sem memória.
é que a sua persistência tende em ferir-me e um dia destes há-de magoar mais alguém.
ela foi viver para longe.
fez dos seus olhos fechados, moradia.
desvaneceu-se na tundra,
na sua pele pálida, branca,
com restos de desejo que nunca existiram.